Uh hu! Cadeirão...





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Joana é uma figurinha!

O que o irmão tem de observador, inteligente e teimoso, ela tem de opinião, de durona e de independência. O Murilo é a teimosia em pessoa, ele dá volta na gente, teimoso que só. Quando ele era menorzinho, era o “dedeu” do vovô, eu morria de rir do pai dele.

Quando fazia alguma coisa indevida, o pai dele falava: — Não faça mais isso! E dava os motivos, e arrematava: — Entendeu?

Murilo respondia: — Dedeu. E continuava fazendo.

O pai repetia, agora com um pouco mais de ênfase:

— Entendeu Murilo?

— Dedeu. Mas não parava de fazer.

— Você en-ten-deu Murilo?

— Ele levantava a cabeça, olhava para o pai e lascava: — Dedeu!

Como quem diz... Entender eu entendi, mas vou continuar fazendo.

Até hoje ele é assim, parou de falar “dedeu”, mas continua com a mesma teimosia de sempre. O danadinho dá volta na gente, agora ele é articulado, tem saída pra tudo, se a gente bobeia ele faz a gente de gato e sapato. Só perde pra mãe dele, isso por que quando ela sente que está sendo enrolada, usa a prerrogativa de mãe: — Agora chegô!

Joaninha é durona, desde pequenininha. Ela é dois anos mais nova que o irmão, mas desde pequenininha juntava no cabelo do irmão de tal forma que o coitado chorava.

Murilo chorava assim do nada, minha filha já falava: — Ah Joana!

Batata, la estava a Joana agarrada no cabelo dele. Minha filha pegava a mão dela e dava um tapinha para cada silaba que dizia: — Não-po-de-pu-xar-o-ca-be-lo-do-ir-mão-zi-nho!

Era aquela choradeira... Não dela, do irmão. A danada, enquanto a mãe olhava fixo pra ela e batia numa das mãos, agarrava o cabelo do irmão com a outra. Dos olhos dela não corria nem uma lágrima.

Independente que só! Mal tinha completado dois anos, um belo domingo minha filha e o marido levam os dois para passear na pracinha perto da casa deles, onde todo mês tinha feirinha na parte da manhã. Estão passeando e encontram dois casais de amigos com as filhas, coleguinhas da Joana.

Brincam, correm, se divertem e chega a hora de ir embora almoçar. Os casais de despedem, iam almoçar fora, e seguem para seus carros. Joana foi junto, erguendo os bracinhos para alguém pega-la e colocá-la no carro, dizendo: — Eu, eu, eu.

E foi, nem tchau deu pra mãe dela... Minha filha queria morrê.

Foi com as coleguinhas e os pais delas para o restaurante, comeu direitinho e ainda volta trazendo uma foto que lá tirou ao lado de ninguém menos que Ana Botafogo, primeira-bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, que estava apresentando um espetáculo na cidade e que coincidentemente estava almoçando no mesmo restaurante em que ela estava.

Na época minha filha ficou de boca aberta, se fosse hoje ela diria:

— Choquei! Estou rosa chiclete.

De opinião! Essa é sua maior característica. Quando coloca uma coisa na cabecinha...

O irmão come de tudo, leva um ano pra comer, enrola que só, mas come e come de tudo, massa, grãos, verdura, legumes, carne, de tudo, minha filha sempre ofereceu alimentos diferentes desde pequenininhos, mas pra ela, comida é macarrão, isso ela come sozinha, sem ajuda de ninguém, assopra quando ta quente e tudo, o resto?

Quando cisma de não querer comer vai logo dizendo:

— Não quero papá!

E não há quem faça ela comer. Se forçar é pior. Certa vez minha filha comentou que ela não queria comer de jeito nenhum, sugeri que apertasse a boquinha dela e colocasse a comida pra ver o que acontecia. Ela fez isso, apertou a boquinha dela e colocou uma colher de comida na sua boca. A danadinha não pensou duas vezes, enfiou a mãozinha na boca, tirou a comida e jogou no chão.

Apanhou, claro... Pensa que chorou? Nem uma lágrima.

Ela tem uma cadeira, dessas de dar comida pra criança, que herdou do irmão, que minha filha apelidou de cadeirão.

Certo dia do mês passado ela me falou que a Joaninha estava de novo numa maré de não querer comer nada. Dessa vez sugeri que não forçasse, que colocasse ela de castigo no cadeirão, mas sem brinquedo, sem nada que distraísse sua atenção.

Minha filha fez isso, chamou os dois pra almoçar, colocou ela sentadinha no cadeirão e ela foi logo dizendo: — Não quero papá!

— Se não papá a mamãe vai deixar de castigo no cadeirão.

— Não quero papá!

— Vai ficar de castigo no cadeirão sozinhinha la na sala!

— Não quero papá!

Ficou de castigo, na sala, sentadinha no cadeirão durante todo o tempo que durou o almoço.

No dia seguinte na hora do almoço minha filha chama:

— Murilo, Joana, o almoço está pronto, venham lavar a mãozinha para almoçar.

Ela veio...

Chegou, e foi logo dizendo pra mãe dela, na maior tranqüilidade:

— Eu não quero papá, quero castigo!



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