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Cada vez que uma criança faz alguma coisa que parece ser muito avançado para sua idade, lembro do Nena, meu irmão agregado.
Lembro-me dele porque sempre que nos reunimos, e faz tempo que isso não acontece, nossas conversas volta e meia para em nossas crianças e agora em nossos netos, principalmente quando eles fazem ou dizem alguma coisa do tipo: do arco da velha!
Ele tem uma frase que é um barato, até meu filho anda dizendo quando minha netinha faz alguma coisa de certa forma avançada para a idade.
Diz o Nena:
— As crianças de hoje são diferentes, muito espertas, só falta nascer falando e andando. No nosso tempo não era assim. A gente era ignorante, vivia enrolado num monte de pano, parecia um charuto. A gente era tão ignorante, tão atrasado que levava uma semana para abrir os olhos. A gente era tão bobo que nem sabia que podia abrir os olhos. Depois de uma semana de nascido a gente abria um olho, se ninguém falasse nada a gente abria o outro.
E começava a desfia exemplos.
— Não vê fulano! Com tanto de idade já faz isso, fulana com tanto tempo já fazia aquilo e cicrano então? Uma bostinha de menino fala, xinga, da porrada...
Um barato, o Nena!
Lembrei dele outro dia, quando minha filha contou sobre o aniversario de dois anos da Joana.
Joana, minha primeira neta, é uma criança incrível!
Linda, esperta, inteligente, começou a andar antes do tempo, a falar também, tem um vocabulário incrível, independente, decidida, alegre, divertida, e agora me falta outros adjetivos, tenho que chegar aos finalmente, mas...
É! Tinha que ter um mas... Não tira ela do sério, acho que é outra que puxou a vó Graça.
Quando ta tudo bem ta tudo bem, mas quando não, a coisa fica preta.
Ela é tinhosa, de opinião! Tem dias, conta minha filha, que ela acorda olha pra sua cara, pensa um pouco pra se situar e lasca: — Não quero mais você!
E fica de cara feia por um bom tempo.
A ultima dela foi semana passada, chegou da cidade com a mãe, minha esposa foi até o carro para pega-la e ela dando os bracinhos pra minha esposa falou com a maior propriedade, séria:
— Não comprei nada!
E ficou de cara amarrada o resto da tarde. Ela ainda não fez três anos...
Ela entrou na escola com um ano e meio mais ou menos e o termo correto é esse mesmo: ela entrou na escola! Não foi a mãe que a matriculou. Ela simplesmente foi até o colégio do irmão, como companhia no seu primeiro dia de aula na nova escola, chegou, deu a mão para uma das “tias” e foi entrando e foi ficando. Ficou um dia, dois, três e está até hoje.
A mãe não teve outra saída senão a de, uma semana depois, matriculá-la na escolinha. Logo no primeiro dia foi fazendo o que as outras crianças faziam, apesar de ser a menorzinha da classe, não demorou um mês e já era a líder do bando.
Pois bem... Aniversário de dois anos na escola!
Todos sentadinhos esperando o momento de entregar o presentinho para a aniversariante. Cada um na sua vez ia até ela e entregava o presentinho que havia levado, ela, alegre e toda sorridente pegava e abria o presentinho.
Pergunto: Qual a criança que não gosta de receber presente?
Respondo: A Joana sob condições sim caso contrário, não!
Teve um menininho, coitadinho, que quando chegou sua vez veio entregar o presentinho para a Joana. Ela simplesmente falou: — Não!
Não pegou o presente e virou as costas para o menino.
O menino ia atrás dela para entregar e ela falava: — Não!
E ignorava o menino.
Minha filha vendo essa atitude dela foi falar com uma das “tias” pra saber o porquê, pra saber como era o relacionamento deles, e a tal “tia” falou que esse menininho logo no primeiro dia deu um empurrão na Joana, coisas de criança dessa idade, e que desde esse dia nem ela nem sua amiguinha Ana, sua fiel escudeira, brincam com o menino. Disse inclusive que, na sala tem um brinquedo que é uma casa de boneca, a Joana como líder da turma, na hora de brincar toma posse da casa e ela e a Ana, não deixam o menino participar da brincadeira.
Pra resumir... Minha filha, com dó do menininho, foi até ele, pegou o presentinho dizendo que ia entregar para a Joana. Ela sequer abriu o presente do garoto.
Menininha de opinião, imagina quando isso crescer...
Como diz o Nena: Crianças de hoje, no nosso tempo a gente nem sabia que podia abrir os olhos!
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