

Outro dia, batíamos papo pela internet e minha filha diz:
— Sabe a ultima do Murilo?
Respondi que não, e ela completou que no dia anterior, estava na cozinha preparando o almoço quando ele apareceu na porta e disse:
— Sabe... Não existe pirata nenhum não!
— Como é que é? Perguntou ela.
— Não existe pirata nenhum não, é o vovô Benedito que coloca as pistas!
— Quem falou isso? Voltou a questionar.
— Ninguem, eu sei! Rebateu ele, e voltou para a sala onde assistia seus desenhos na televisão.
— De onde será que ele tirou isso pai? Ela questionou-me.
Respondi que não sabia, mas comentei que o danadinho era inteligente, que ele é um menino com muita imaginação e que foi ligando as peças, ligando os fatos e chegou è essa conclusão e continuamos a conversar sobre outros assuntos, não sem antes dizer-lhe:
— Deixa ele comigo!
Bom... Essa história do pirata para quem não sabe a que se refere, sugiro que procure neste blog, em “Momentos”, pelo texto “O preço da felicidade”.
Pois é, o danadinho descobriu a brincadeira. Pensei, depois que terminei de conversar com minha filha. Mas o mundo é redondo, eu pego ele mais na frente, ele não vai quebrar as pernas do vovô não. Continuei pensando comigo mesmo, em voz alta.
Essa história de que o mundo é redondo, aprendi com minha avó. Perdi minha mãe quando eu ainda era pequeno e foi essa avó, mãe do meu pai quem acabou de me criar.
Ela era uma italianinha de não mais que um metro e cinqüenta de altura, gordinha, que chegou ao Brasil com sete anos de idade, de cabelos loirinhos, longos, que usava presos num coque, depois de trançados. Por sinal, era eu quem penteava seus cabelos, usando para isso um pente finíssimo que ela tinha, era eu quem os trançava cuidadosamente para ela.
Ela não sabia ler nem escrever, freqüentou a escola por apenas uns três meses, não mais que isso, pois sua mãe faleceu pouco tempo depois de chegarem ao Brasil e ela, com sete anos de idade saiu da escola para cuidar da casa e da irmã que tinha apenas cinco, mas o fato de não saber nem ler nem escrever não impediu dela se tornar uma grande mulher, viver dois casamentos e criar uma penca de filhos, próprios e de outrem.
Aprendi muitas coisas com ela, uma delas é que o mundo é redondo!
Ela me disse certa vez, senão com essas palavras, algo mais ou menos assim:
— Netinho... Quando você quiser algo, não precisa se desesperar, ficar correndo atrás feito louco, tenha paciência, o mundo é redondo! Quando quiser algo, apenas queira com toda força do seu coração, nunca deixe de querer e nunca deixe de estar atento. O mundo gira, um momento que passa hoje na sua frente, volta. Pode ser que volte com outra roupa, de outra forma, com outro jeito, mas volta, apenas esteja atento para notar as mudanças e ver que aquilo que você desejou, voltou e está de novo à sua frente e então sim, não desperdice a oportunidade.
Então... Passa-se uns dois meses e Maria Nina nasce. Minha filha está na maternidade, tendo como companhia o marido e minha esposa e eu estamos na casa dela tomando conta da casa, da cachorrinha Preta e das crianças: Murilo e Joana.
As crianças de banho tomado, já de pijaminha, prontos para dormir, com a barriguinha cheia, estão sentadinhos no sofá da sala assistindo televisão.
De repente, não mais que de repente, do nada, a Preta começa a latir, olhando para cima, olhando para o nada, nem correr para a porta correu, muito menos voltar-se para as janelas voltou-se. Foi isso, latiu e olhava para cima, olhava para o nada.
Minha esposa inclusive perguntou: — O que foi Preta? E comentou: — O que será que ela viu?
— Preta, o que foi? Voltou a perguntar minha esposa.
A Preta apenas olhava para cima e latia. As crianças ficaram em pé no sofá, com os olhinhos arregalados e Murilo falou: — A Preta tá louca!
Olhei para ele e pensei: — Te peguei garoto!
A Preta se acalmou, (nós não conseguimos identificar o porquê dela ter ficado tão agitada como ficou) as crianças voltaram a assistir ao desenho que estavam assistindo e eu desapareci da sala. Voltei algum tempo depois, sentei-me no sofá ao lado das crianças e não mais que de repente meu celular toca.
— O pirata!
Gritam os dois quase que ao mesmo tempo.
— Vovô, é o pirata?
Vovô pega o celular, olha e diz:
— Sim, é ele.
— O que ele ta falando, vovô?
Pergunta Murilo.
— Ele está dizendo que acabou de deixar uma pista na banheira rosa.
— A banheira da Maria Nina!
Diz Joana já saindo correndo em direção ao banheiro, onde estava a banheira rosa da Maria Nina.
Acertou a danadinha! Ela não alcança mas o irmão, maiorzinho, consegue erguer a tampa da banheira e achar a pista.
Voltam de lá com o papelzinho na mão, falando ao mesmo tempo, eufóricos, dizendo:
— Uma pista! Achei uma pista! Lê vovô!
Vovô lê: — Tem um fedorento me segurando.
— O “fedolento”!
Grita Murilo parecendo o Cebolinha, trocando o “R” pelo “L”.
— Meu boneco “fedolento”, éca, que nojo!
E corre para a janela, para pegar o bonequinho “fedorento” que ele pediu para a avó. Um bonequinho que literalmente fede, porisso o nome fedorento, e por isso está “de castigo” no parapeito da janela, e acha outra pista e a brincadeira segue até uma determinada pista: Sou uma pista, estou escondida numa certa cachorrinha.
— A Preta!
Gritam os dois. Correm para a Preta, que não entende nada sobre o que está acontecendo, coitadinha, e começam a apalpá-la até que acham a pista presa na coleirinha dela.
Era o que eu queria, mas deixei a brincadeira continuar até acharem o tão esperado tesouro e quando estavam abrindo os chocolatinhos que ganharam dessa vez, olhando para os dois pequenos, peguei meu celular e falei:
— Tem mais uma coisa que o pirata mandou dizer pra vocês.
— O quê? Perguntam.
— Ele manda dizer que ele veio aqui hoje para trazer esse chocolatinho que a vovó Carmen pediu para comprar pra vocês.
— É?
— Sim! Ela pediu pro pirata comprar pra vocês e para a priminha Sofia e como o vovô não passou na casa da Sofia para ajudar o pirata, ele trouxe tudo pra cá, esse chocolatinho que está sobrando é da Sofia, temos que guardar para ela.
Murilo pegou o que estava sobrando (eram 3 na embalagem) e deu para a vovó Carmen guardar para a Sofia.
— Mas tem outra coisa! Falei.
— O quê?
Perguntaram quase que em unísono.
— Sabe por quê a Preta latiu desesperada àquela hora?
— Porque?
Perguntaram.
— Porque ela viu o pirata colocando a pista na coleira dela.
— É?
Perguntam.
— Sim! Ele é invisível, sabiam? Mas a danadinha conseguiu ver ele ou então sentiu ele colocando a mão nela e se assustou com ele.
— É mesmo! Respondeu o Murilo.
— Porisso que ela ficou latindo e olhando para cima. Arrematou, definitivamente convencido da existência da pirata.
Depois disso morreu o assunto. O pirata existe sim, claro que existe! O Murilo teve prova disso, ele é invisível, apesar que a Preta consegue vê-lo.
Eu? Continuo sendo o que sempre fui: apenas o amigo do pirata!
Sou ajudante dele, sou eu quem ajuda o pirata a fazer as brincadeiras. Por enquanto...
Digo por enquanto, porque depois disso, um dia, perguntei ao Murilo que pirata o vovô seria, caso fosse convidado para participar da equipe do pirata e ser também um pirata.
Segundo o Murilo, quando eu for convidado para fazer parte da “equipe” do pirata, serei o “Pirata Misterioso”.
— Porque Murilo, porque o Pirata Misterioso?
— Porque suas “blincadeilas” é bem legal, tem "mistélio".
Enfim... Ainda não foi dessa vez que o danadinho deu a volta no vovô. Ele ainda vai conseguir, mas ainda não foi dessa vez.
Um comentário:
LINDO!!!!!!!!!ADOREI!!!!!!!
lembrar de nossa vózinha foi um presente seu para mim!!!A Italianinha mais lindo do mundo e SÁBIA, muito SÁBIA.Quanta saudades!!!
Quanto ao PIRATA MISTERIOSO vc é mesmo ele e mais um vovô MARAVILHOSO!!!!!!!!!!!!!
bjsssss.
Postar um comentário