




Certa vez, com a intenção de mostrar a alguém muito especial o significado da palavra felicidade, escrevi sobre isso, mostrei minha opinião e me parece que ela aprendeu e tomou isso para si, veja o que escreveu um dia, algo que só anos depois tomei conhecimento:
“Todos os dias, a cada despertar
construímos uma nova caixa
que a qualquer momento vamos abrir.
O poeta ensinou-me a fazer caixas...
Acho que aprendi.
Hoje quando vejo uma delas
entendo o que vou enxergar.
Construo... e limito-me a imaginar!
Escolho o papel...
(a inspiração dei teu nome)
Medi...
(procurei no fundo d’alma tudo que fosse você)
Risquei...
(tantos rascunhos, rasuras... papel jogado fora
alguns poemas: o melhor de mim)
Cortei...
(em dois volumes: a alma e o coração de um querubim)
Colei...
(e essa caixa de amor, terminei)
Uma bela fita procurei...
Prá arrematar!
Limito-me, então a imaginar
a caixa nas tuas mãos...
(e mais um segredo prá se desvendar)
Será qu’ele vai gostar?
O que vai sentir?
Serei capaz de agradar?
Não sei...
Isso só você pode afirmar”
Bom... o poeta sou eu! Não que eu seja um, não que eu me sinta um, longe disso, são apenas palavras dela, na verdade, ela sim é uma poetiza. Eu as recebo como um elogio e nem sei se as mereço.
Pois bem... Hoje vamos falar do custo da felicidade, quanto isso custa? O que temos de gastar para produzir felicidade?
Sabe de uma coisa?
Eu sei quanto custa! Não custa mais que uma folha de papel A4, de papel reciclado é claro! Afinal faz tempo que procuro defender a natureza.
Mas não custa mais do que isso, não mesmo!
Outro dia... minha filha em casa, com as crianças, de férias, esperando pela liberação do apartamento em que iam morar, agora que vieram transferidos do sul para mais perto de casa, chego do serviço, dou um oi para as crianças, Murilo e Joana, dou um oi pra minha filha Camila, também dou um oi para minha amada (ela não acredita nisso, mas por isso só ela quem perde) Carmen, como alguma coisa e sento-me no sofá da sala como quem não quer nada.
— O que é isso?
Pergunta meu neto com um canudo de papel marrom, nas mãos, todo queimado nas pontas.
— Não sei! Respondo.
— Onde achou? Pergunto.
— Aqui perto dos peixinhos!
— Deixa o vovô ver. Peço.
— Nossa! Parece um mapa do tesouro! Exclamo.
— É! Exclama o pequeno. Parece um mapa... arremata.
— Quero ver!
Essa foi minha netinha, toda curiosa.
— Nossa! Parece o mapa da casa do vovô, olha só! Aqui é a sala, aqui é o quarto que a mamãe está dormindo, a cozinha é aqui, olha o quarto do vovô e da vovó, o banheiro, a varanda, a garagem...
— É! Respondem os dois todo animados.
— O que está escrito vovô?
— Ta escrito que se seguirem o mapa encontrarão um tesouro!
— Isso é um mapa do tesouro! Falei.
— Radical!
Essa tirada é do Murilo. Bobeou ele solta essa: Radical!
— É! Arremata Joana.
— Olha! Parece que tem uma pista bem aqui, no sofá da sala.
Pronto! La se vão as almofadas todas para o ar.
— Achei, achei! Grita meu neto. Lê vovô.
Vovô lê: Se quiserem achar um tesouro sigam as pistas, sigam o mapa. Estou escondida debaixo daquilo onde colocamos a cabeça para dormir.
— Travesseiro, travesseiro, travesseiro!
Essa foi Joana, decifrando a charada. Nem sempre é ela quem chega nas pistas primeiro, mas é sempre a primeira a decifrar as charadas.
Parece o papagaio da piada.
Não conhecem essa?
Então... Um ladrão chegou no portão de uma casa e antes de pular o muro, olhou, olhou e viu uma placa: cuidado com o papagaio!
Ele olhou e viu um papagaio dormindo num puleiro. Deu risada da brincadeira e pulou o muro. Assim que caiu do outro lado, o papagaio abriu os olhos e gritou:
— Pega Rex!
Rex era um bruta dum cachorro rottweiler que ficava dormindo a espera do comando do papagaio.
Joaninha parece o papagaio, não tem tamanho nem força pra sair correndo e chegar primeiro, mas a danadinha é sempre a primeira a matar as charadas que o vovô pirata escreve.
Depois de entenderem que tinham de seguir para o quarto onde dormia a mamãe, foi fácil, jogaram os travesseiros para o ar e acharam a próxima pista:
— Estou numa coisa verde que é usada para balançar...
— A rede, a rede, a rede!
Vão os dois correndo para a rede e acham a próxima pista.
Segue-se a brincadeira até chegar na ultima pista: “Estou ao lado da casinha, o X marca o lugar!”
Para quem não sabe, casinha é a casinha de madeira que construí no quintal de casa para as crianças brincar.
Tocam a procurar ao lado da casinha.
Claro que eu ajudo, afinal Joana tem só três aninhos e Murilo cinco: — Olha, essas pedrinhas brancas parecem uma letra!
— Um “V” Responde Murilo. Ele conhece as letras todas do alfabeto desde os quatro anos de idade.
— Então acho que temos de procurar por uma letra X, a pista diz que o X marca o lugar.
— Aqui, aqui! Grita Murilo todo contente, mostrando o X feito com pedrinhas brancas.
— Isso, vamos cavar! Convidei.
— Cadê a pazinha? Pergunta o Murilo, já saindo em disparada a procura de uma pá, e Joana atrás.
Voltam com as pazinhas e começam a cavar.
Não demora muito e algo aparece. Um saco plástico, eles não sabiam mas era para proteger aquilo que tinha dentro, puxam e ficam eufóricos.
— Abre vovô!
Vovô abre e dentro tem um pequeno baú de papelão, feito meio de qualquer jeito com um pedaço de caixa de papelão marrom, e dentro dele um punhado de balas:
O tesouro do pirata!
Ficaram eufóricos!
A alegria estampada nos olhinhos deles não tem descrição.
Depois dessa virou febre.
Quando estamos juntos, Murilo acorda e já vai perguntando:
— Será que hoje tem pirata?
Voltam da escola e já voltam procurando pistas.
E eu sou nada mais nada menos que o “amigo do pirata”. É comigo que ele fala, é pra mim que ele manda mensagem, sou eu quem consegue falar com ele, tenho até o celular dele!
É! Tempos modernos... nos falamos por celular.
Estamos no restaurante almoçando para eles irem para a escola, minha filha, coitadinha, ficou mais de três meses num hotel de transito esperando vagar um apartamento, as aulas das crianças começaram, ela tinha que almoçar e jantar em restaurante, não tinha casa ainda, a mudança guardada em depósito, e eles as vezes faziam graça, coisa de criança.
Opa! Exclamo. O telefone ta chamando.
— É o pirata? Pergunta um.
— É o pirata. Respondo. Ele ta perguntando de vocês, ta querendo saber se estão bonzinhos, se estão comendo tudo, quer saber por que ele quer vir a tarde visitar vocês.
— O que eu digo? Posso dizer que vocês vão comer bonitinho pra ir para escolinha?
— Pode! Respondem em coro.
— Olha lá, hein, então come, senão ele não vai vir.
— Ta!
Se a situação não se resolve de vez, melhora bem.
Fiquei tão bom nisso que nem preciso mais de quintal, uma casa inteira e coisa que o valha. Um simples quarto de hotel e uma folha de papel A4 são suficientes.
Estávamos ainda no hotel de transito do exército, chega o Murilo da escola e vai logo perguntando:
— Tem pirata hoje?
— Não sei! O pirata que sabe.
Entra minha filha logo atrás, me entrega um papelzinho e diz: — Acho que fiz “cáca” pensei que era bilhete do hotel mas acho que é uma pista e não consegui colar de volta.
Peguei correndo o papelzinho, peguei outro pedaço de durex e colei na porta pelo lado de fora.
Deu tempo!
Fecho a porta e não demora muito chega minha esposa com a Joana no colo.
— Uma pista, uma pista, Murilo, achei!
Murilo corre, abre a porta e lá está ela com um papelzinho na mão.
— Achei Murilo, uma pista!
— Onde?
— Aqui , na porta. Lê vovô, lê vovô.
Vovô lê: Tem uma pista na mochilinha.
— A Dora! A Dora! A Dora! Grita Joana fazendo força pra vó dela colocá-la no chão. Desce e sai correndo a procura da Dora. Da mochila da Dora que ela tem.
— Achei, achei, achei!
— Lê vovô!
Vovô lê: Em cima de mim tem uma televisão.
— Ergue eu papai! Pede o Murilo.
O papai dele ergue, e ele enxerga, grudado, embaixo da TV colocada na parede, um papelzinho. Era a pista.
— Achei, achei!
Lê vovô!
Vovô lê: Nossa... ta muito frio aqui dentro, me tirem daqui.
— Na geladeira, na geladeira... e correm para a geladeira.
As vezes precisam trabalhar em conjunto, coloco a pista num lugar que cada um deles, sozinho, não consegue pegar, precisam aprender a trabalhar em conjunto, tipo: Murilo que é maior e mais forte, ergue a mala da vovó, Joana olha e pega a pista embaixo dela.
Ou então... estou dentro daquilo que usam no pé e tem um monte deles em volta de mim, me encontrem e estarão perto do tesouro.
— Sapato! Na caixa de sapato.
E correm para a caixa com sapatos.
Claro! Os sapatos todos são jogados para o alto, mas quem se importa com isso?
O importante é que encontraram dentro de um deles a tão sonhada pista.
O que ganharam dessa vez?
Meia dúzia de moedas de dez centavos que dividiram por dois para colocarem nos seus cofrinhos, nada mais que isso.
Por falar nisso, saquei o seguinte: o tesouro em si, não tem nenhuma importância. Já ganharam moedas, kinder ovo com brinquedinho, balinhas que a vovó tinha em casa, brinquedos que a amiga da mãe deles trouxe do Canadá, dos Estados Unidos quando esteve passeando por lá... a alegria de encontrar o tesouro foi a mesma para todos os tesouros. Mas a alegria, a felicidade estampada naqueles olhinhos cada vez que achavam uma pista? Não tenho como descrever... Dá vontade de chorar cada vez que lembro do brilho estampado naqueles olhinhos.
Outra coisa que notei é que nessa brincadeira não tem disputa, tão normal entre irmãos, do tipo: Cheguei primeiro! Ganhei mais! A minha é mais bonita!
Não existe isso, nenhum dos dois se importa com quem achou a pista, quem foi que pegou o papelzinho para o vovô ler, para os dois, o importante é que uma pista foi encontrada, já era! Vamos para a proxima.
Meu filho outro dia, num depoimento sobre mim, no Orkut disse assim: Na linguagem em voga: ESSE É O CARA!
Filho... Fiquei muito feliz com seu depoimento, muito mesmo, você sabe disso, você é um filho maravilhoso, daqueles de dar orgulho em qualquer pai, mas me desculpa, eu sou mais que isso, eu sou mais que "o cara", eu sou o amigo do pirata!
Sabe-se la o que é isso?
Estalo os dedos e meus doizinhos, meus dois piratinhas, estão aqui, do lado do vovô esperando pelas instruções do pirata, porque sou eu quem fala com ele, é para mim que ele manda mensagem pelo celular, é comigo que ele trama todas as brincadeiras e nessa hora, não tem coleção de dinossauros, não tem boneca Barbie, bola, motoca ou qualquer coisa que o valha, para eles o mundo simplesmente para.
—É o pirata vovô?
—É! É o pirata...
E como eu lhes disse... quanto custa isso? Não mais que uma folha de papel A4.
Papel reciclado, é claro!
Um comentário:
Lindooooooooooooooooo!!!!!!!
Você é mesmo um POETA "DOS BÃO"! e um vovô MARAVILHOSO, daqueles que será uma festa só, quando seus netos, um dia, falarem de você com tanto AMOR e ORGULHO.
Bjsssssssssssss.
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