Crianças de hoje...





Alguns dias depois da pescaria na qual o Murilo soltou aquela sua pérola — alguém sentiu uma mordida aí? — fomos pra casa dele no sul do país, pra casa atual porque ele, como filho de militar é um “cidadão brasileiro”, anda errante por esse Brasil à fora.

Ele nasceu em Brasília, é um candanguinho!

Brincadeira, ele é brasiliense, candango, um termo geralmente usado para designar os brasilienses, na verdade é um termo dado aos trabalhadores imigrantes, quando da construção da capital federal.

Já morou no Rio de Janeiro e atualmente está em Santo Ângelo, conhecida como “Capital das Missões”, terra do “Fusca voador”, a primeira aeronave experimental com motor não convencional do mundo, construída pelo imigrante alemão Ludwig Michel , denominada Michel 1, e se tudo correr bem logo estará mais perto de nós, morando em Resende.

Mas como diria nosso impagável prefeito Odorico Paraguaçu: vamos deixar de lado os entretantos e partir pros finalmente!

Estando na casa do Murilo, domingo de manhã, meu genro, na verdade um filho postiço que eu e minha esposa ganhamos, pai do Murilo, nos levou para pescar numa lagoa localizada dentro de uma enorme área de terra utilizada como campo de treinamento do exército.

Chegando lá nos instalamos na beira da lagoa onde armei a mini cadeira de praia do Murilo, arrumei as varas e começamos a pescar.

Como não conhecíamos a lagoa, não sabíamos que tipo de peixe poderíamos pegar, na verdade fomos até lá mais para conhecer, mais para levar o Murilo para se distrair, então levamos apenas isca para lambari que eu mesmo preparei em casa.

Olha!

Pena que nosso tempo era curto, era domingo de grenal, um dos clássicos mais famosos do futebol brasileiro e como íamos almoçar fora tínhamos que voltar logo porque lá, domingo, dia de jogo, duas horas da tarde os restaurantes já estão todos fechados, ou estão retirando a comida e preparando o ambiente para receber os torcedores para assistir o jogo.

Pena porque a lagoa estava infestada de lambaris, era jogar a isca na água e os danadinhos atacavam a isca.

Estava uma delícia!

Eis que de repente, Murilinho, que estava quietinho, segurando sua varinha — ainda não tinha dado os cinco minutos nele — vê sua boinha afundar na água.

— Puxa filho!

Diz meu genro que estava do lado dele, só assessorando.

Ele puxou e fisgou o peixinho. Ergueu a varinha e viu o peixinho.

Ficou radiante!

Nesse exato momento, eu, que tinha virado a cabeça pra ver a cena assim que o pai dele gritou – puxa filho! – voltei a me concentrar naquilo que anteriormente estava fazendo.

Então ouvi um sonoro ti – bummmm!

Virei novamente e vi:

Murilo dentro d’água, só com a cabecinha de fora e o pai dele posicionado atrás dele já com as mãos prontas para manter a cabecinha dele fora d’água. Nem precisou! Ele então empurrou o Murilo pra mim, e eu o puxei para fora da lagoa.

O “ti” foi o som do Murilo caindo dentro d’água. Ele foi querer pegar o peixinho (ele não tem medo de por a mão em bicho nenhum) e a cadeirinha dele dobrou, vai daí que a beirada da lagoa era inclinada para frente, já viu né? Ele foi parar dentro da lagoa.

O “bummmm” foi o som do pai dele caindo imediatamente dentro da lagoa para protegê-lo.

— Ta pinicano!

Reclamava o pequeno, todo molhado, assim que saiu da lagoa.

Ah! A lagoa tinha aproximadamente sete metros de profundidade no local em que estávamos, conforme informação do soldado que naquele dia estava de serviço no local e que se apresentou ao meu genro, oficial do exército brasileiro, assim que chegamos ao local.

Macaco velho... Muitas pescarias na bagagem...

Tirei da pochete dois retalhos de pano, pedaços de camisetas velhas que sempre levo como garantia nas pescarias, para limpar as mãos e coisa e tal, e comecei a secar o garoto.

Enquanto isso, o pai dele, ainda dentro d’água, de roupa e tudo, nadava recolhendo os chinelos, as varas, a mini cadeira de praia e tudo mais que caiu dentro d’água.

Pra resumir: Murilo sequinho, agora só de cuequinha, afinal além de estar um calor infernal, era fevereiro, foi a única peça de roupa que ele usava que deu pra dizer que estava relativamente seca, depois que eu torci é claro, sentou de novo na cadeirinha e continuou a pescar, como se nada tivesse acontecido.

Eu olhava pra ele incrédulo!

Eu, com meus quase sessenta anos, se cair na água, pareço um tijolo.

Ele, com menos de cinco, parecia que estava em seu habitat natural.

Foi então que pensei e me dei conta.

Ele pratica natação desde os seis meses de idade.

Se estivesse num rio ou no mar que precisasse de força para vencer a correnteza tudo bem, mas numa lagoa? Pra ele era como se estivesse na piscina do clube, numa piscina um pouquinho maior, só isso, por isso nem se abalou, apenas achou ruim dos fiapinhos de mato que estavam “pinicano”.

Crianças de hoje...




VOLTAR





.

Nenhum comentário: