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Quem não se lembra daquele desenho da dupla Hanna-Barbera sobre as aventuras do Leão da Montanha, um leão muito educado e cheio de charme que vivia se metendo em apuros e que antes de sair correndo levantava a perna e gritava: “Saída pela direita!”. Isso se a direita fosse o sentido certo, senão o grito era outro.
Pois é... Pensei nele quando tentava imaginar um titulo para este texto, não que eu viva me metendo em apuros, mas sou muito educado e tenho certo charme, porem não é nada disso, simplesmente pensei nele porque o acontecido se repete no dia seguinte, de outra forma. Duas situações, duas soluções...
Então... Certa vez quando ainda trabalhava numa empresa multinacional do ramo químico, participei de um desses cursos de liderança que a empresa colocava a nossa disposição. Não me lembro direito o nome do hotel em que ficamos, foi numa cidade serrana, mas me parece que tinha montanha no nome, um bom hotel por sinal.
Como normalmente acontece nesses tipos de cursos, não existe tempo ocioso, as atividades todas se encaixam de modo a aproveitar o tempo da melhor maneira possível.
Com isso, fomos pra lá de forma a chegar quase na hora do jantar, nos instalamos, em apartamentos individuais, jantamos e fomos convidados a nos reunir no bar do hotel, para uma conversa descontraída e para que houvesse uma aproximação maior entre todos.
Como é do meu feitio, coloquei-me num local de pouca visibilidade, não sou dado a ser o centro das atenções, mas num ponto de onde podia observar a todos. Isso eu gosto de fazer: observar. Para isso sentei-me num dos bancos que circundavam o balcão do bar. Perto das bebidas e com visão privilegiada.
Não demorou muito o palestrante do curso sentou-se ao meu lado, nos conhecíamos de outros cursos que ele ministrou e que participei, e toca a querer saber como estava fulano, como estava cicrano, todos conhecidos dele e que trabalhavam comigo na fabrica.
No centro do bar o papo rolando solto, um monte de engenheiros rindo e contando vantagens. A grande maioria dos participantes era de engenheiros, o restante eram supervisores de seção, como eu. Tinha também duas mulheres, as únicas presentes, representantes do RH da empresa, coordenadoras do evento.
Todos riam a valer principalmente porque estavam alugando o coitado de um engenheiro baixinho, o mais baixinho de todos. Digo de todos considerando o grupo que estava no centro do bar, se eu estivesse no meio levava o titulo com a maior facilidade.
— Estão alugando o coitado. Comentou o palestrante ao meu lado, enquanto saboreávamos um whisky doze anos com duas pedrinhas de gelo. Duas pedrinhas de gelo pode, o que não pode, um verdadeiro pecado mortal, é misturar essa bebida com qualquer outra coisa.
— Estão. Concordei com ele, completando que estavam fazendo isso para impressionar as garotas. Os homens (os bobos é claro!) vivem fazendo isso, contam vantagem para impressionar uma garota, as vezes perdem a noção de controle sobre seus atos e acabam metendo os pés pelas mãos, achando que estão abafando.
— Ele está meio envergonhado já. Completou.
— Quer ver como a gente vira esse jogo?
Falei, descendo do banco e me aproximando do grupo.
Assim que diminuíram as risadas e antes de começarem outra piada, pedi:
— Posso contar uma também?
Concordaram por pura educação. Alem de um colega de trabalho, supervisor como eu, não conhecia mais do que dois ou três dos engenheiros presentes, apenas de vista, sabia que trabalhavam na empresa, já os tinha visto na empresa, mas longe de dizer que eram conhecidos.
— Conhecem aqueles secadores de cabelo, enormes que parecem mais um capacete gigante que as mulheres usam nos salões de beleza? Perguntei.
— Sim! Responderam todos.
— Pois é! Estava uma mulher no salão de beleza, dando um trato no cabelo, sentada, com aquela coisa enorme sobre a cabeça, só observando o movimento, afinal o negócio fazia tanto barulho, parecia um avião, que ela não conseguia ouvir nada do que as outras pessoas estavam falando. Ela apenas movimentava os olhos de um lado para o outro, tentando entender o que se passava à sua volta.
— O salão estava cheio e o papo entre as mulheres rolava solto.
— Eis que entra uma mulher e senta-se ao lado de uma outra, sua amiga, bem na frente dessa mulher do secador e começam a conversar.
— Diz uma: Como vai, como está seu marido, soube que ele agora está cuidando do sitio de vocês?
— Vou bem. Sim, a vida dele agora é cuidar do sitio.
— E vai indo bem?
— Vai. Meio esquisito mas vai.
— Esquisito por quê?
— A plantação de milho que ele formou.
— O que tem ela?
Nesse ponto entreguei meu copo de whisky para o engenheiro baixinho dizendo: — Segura que vou precisar das duas mãos. Ele pegou meu copo e então continuei a contar.
— E a mulher sob o secador só olhando pelo rabo dos olhos, sem entender uma só palavra, só mexendo os olhos e sorrindo sem graça.
— Então... Meu marido, disse a outra, plantou milho, mas os pés não cresceram, não passaram disso aqui, e fez com a mão indicando uma altura de um metro e trinta mais ou menos.
Também fiz o mesmo gesto com a mão, que a mulher da piada.
— Puxa! Vai ver que faltou adubo. Comentou a amiga.
— Pode ser, mas apesar disso, e é isso que é esquisito, deu cada espiga de milho... Assim, de uns trinta centímetros mais ou menos, e fez com as mãos mostrando o tamanho da espiga.
Também fiz o mesmo gesto, por isso precisava das duas mãos desocupadas.
— A mulher do secador (continuei) quando viu a outra mostrando com as mãos a altura do pé de milho e o tamanho da espiga, arrancou o secador da cabeça e com os olhos arregalados perguntou:
— Cadê o baixinho? Cadê o baixinho?
Tive que tomar meu copo das mãos do engenheiro baixinho, ele não me ouviu pedir, o som da minha voz foi abafado pelas gargalhadas e palmas que as duas garotas deram assim que terminei a piada.
O engenheiro baixinho também morreu de rir, os outros não sabiam onde enfiavam a cara, ficaram envergonhados, com um sorriso amarelo na cara, principalmente porque as garotas adoraram. Claro que elas não riram da piada, ou pelo menos não riram só da piada, apesar de boa, riram do troco que foi dado aos caras que estavam tirando sarro do colega.
Ele gostou tanto que colocou a mão no meu ombro e pediu:
— Boa, boa, conta outra.
— Se precisar eu conto, qualquer coisa me chama. Falei, voltando para junto do palestrante com meu copo de whisky.
Bom... A rodinha simplesmente se desfez, como ninguém queria arriscar e contar a próxima piada, cada um foi saindo para um lado e se desfez a rodinha.
As garotas do RH, antes de sair do bar, chegaram até onde eu estava e uma delas comentou, antes de dar boa noite como despedida:
— Muito boa a saída que você arrumou, a situação estava ficando desagradável.
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